sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

ORIGEM DO TITO ADONHIRAMITA

Fuad Sayar
VERBA VOLANT, SCRIPTA MANENT

Discutir a Origem do Rito, é necessário abordar com muita coragem, e com documentos, uma vez que o tema é extremamente polemico e para alguns, até tabu. Entretanto, se faz necessário a derradeira elucidação da Origem do Rito. Muito se tem falado, escrito e divulgado sobre a origem do Rito. Há algumas versões, que chegam a ser até cômica. A grande maioria das versões são especulações e o que é pior, sem provas documentais. Infelizmente, essas especulações só vem denegrir o nosso belo Rito. A questão de provas documentais é muito importante exatamente porque a História não admite o eu acho, ou ouvi dizer ou me disseram. ( Raimundo Rodrigues – “A Filosofia da Maçonaria Simbólica” ) Varios estudiosos/pesquisadores Maçons Brasileiros, de renomada credibilidade, tais como José Castellani, José Daniel, Nicola Aslan, Xico Trolha e outros, já demonstraram cabalmente a verdadeira história da Origem do Rito. Entretanto são Brasileiros,. . . e como Brasileiros, não tem valor para alguns. Dessa forma, acrescentarei dados documentados, de conceituados estudiosos e pesquisadores alienígena, de assuntos da Maçonaria Universal, prova definitiva e cabal, que o criador do Rito Adonhiramita, foi Louis Guillerman de Saint - Victor.

“Dictionnarie des Franc-Maçons et de la Franc-Maçonnerie” de MELLOR (Alec)

“ As Escrituras falam de Adonhiram somente como encarregado das corvéias quando da construção do Templo pelo Rei Salomão, entretanto, em 1744, Louis Travenol publicou sob o nome de Léonard Gabanon o seu “Catéchisme de Francs Maçons ou le Secret des Francs Maçons”, onde confundia Adonhiram com Hiram Abif. Como “Adon ”, em hebraico significa “Senhor”, essa palavra apareceu como prefixo de honra. Os ritualistas dividiram-se . Para uns, Adonhiram e Hiram eram a mesmo personagem Outros sustentavam a teoria dualista, mas divergiam quanto aos papéis respectivos de Adonhiram e Hiram na construção do Templo, uns sustentando que Adonhiram não fora senão um subalterno enquanto outros nele viam o verdadeiro herói da lenda do 3º Grau. Foi assim que nasceu uma Franco – Maçonaria denominada Adonhiramita, oposta, pelos seus teóricos, à dos “hiramitas”. Ela nos é conhecida pelo “Recueil Précieux de la Maçonnerie Adonhiramite”, publicada em 1781, por Louis Guillemain de Saint – Victor, e abrange os quatro primeiros graus.

Em seu livro “ Orthodoxie Maçonnique “, Jean Marie Ragon, atribuiu ao Barão de Tschoudy a criação da Franco – Maçonaria Adonhiramita. É um erro total.

Encyclopaedia of Freemasonry “ de MACKEY (Albert G.

A criação do Rito Adonhiramita, foi atribuída erroneamente por Ragon ao Barão de Tschoudy, criador da Ordem da Estrela Flamejante. A coletânea relativa aos Altos Graus do Rito, foi completada em 1785, cuja hierarquia se apresenta com se segue:

1º Aprendiz; 2º Companheiro; 3º Mestre; 4º Mestre Perfeito; 5º Primeiro Eleito ou Eleito dos Nove; 6º Segundo Eleito ou Eleito de Perignan; 7º Terceiro Eleito ou Eleito dos Quinze; 8º Pequeno Arquiteto ou Aprendiz Escocês; 9º Grande Arquiteto ou Companheiro Escocês; 10º Mestre Escocês; 11º Cavaleiro da Espada, Cavaleiro do Oriente ou da Águia; 12º Cavaleiro Rosa Cruz .

“ Esta é a lista completa dos Graus Adonhiramita. Thory e Ragon erraram ambos ao darem-lhe um 13º, a saber: o Noaquita ou o Cavaleiro Prussiano. Praticaram esse erro, porque Saint – Victor inserira este Grau no fim do seu segundo volume, mas somente como uma curiosidade maçônica, que tinha sido traduzida do alemão, com ele disse, pelo Senhor de Berage” ( Ragon errou duas vezes – grifo meu ) “Não existe qualquer ligação com a precedente série de Graus”, e Saint – Victor declarou positivamente que o Rosa – Cruz é o nec plus ultra ( 2ª parte pag. 118 ), o ápice e término do seu Rito

OBS.- Os grifos em negrito são meus.
26Dez2005 - 21:29 | ( 0 ) comentários

A ORIGEM DO RITO ADONHIRAMITA (continuação)
Fuad Sayar

Esse erro de Ragon, levou os precursores e alguns pseudos estudiosos, da atualidade, a defenderem, como criador o ilustre escritor Maçom Théodore Henry – Barão de Tschoudy. Contudo, não há uma única literatura de sua autoria, com citação a Maçonaria Adonhiramita. A sua obra capital é “ L’ Étoile Flamboyante “, de 1766. Tschoudy nasceu em 1720 e faleceu em 1769. A coleção “Recueil Précieux de la Maçonnerie Adonhiramite” foi publicado em 1781, isto é, 12 anos após a morte de Tschoudy, e até os dias atuais , ninguém conseguiu provar, com documentos, que ele tenha deixado manuscritos para edições futuras..

Todavia, se os conceitos emitidos por pesquisadores estrangeiros, também forem contestados, vamos concentrar numa analise do próprio livro “Recueil Précieux de la Maçonnerie Adonhiramite “

Na edição, publicada em 1787, traduzida e editada para a lingua portuguêsa, pela “ ARJS Gilvan Barbosa” de Campina Grande – PB -, que abrange os quatro primeiros graus, há algumas citações que, não foram – ou não quiseram - observadas pelos pesquisadores interessados em manter o “status quo“ sem a devida humildade de reconhecer o erro.

Senão vejamos:

Na apresentação do Editor Francês da Edição de 1787, do “Recueil.....

“Para Guillemain Saint – Victor, Adonhiram não parece ser esse preceptor, mas um parônimo de Hiram, o Mestre Maçom. (pag 86)”.

“ O autor faz seus comentários, apresenta as indicações do comportamento em Loja, os catecismos e os rituais dos quatros primeiros graus, como parecem ter sido praticados em 1781, tentando relatas apenas verdades, pelo menos, de valor histórico ”.

Na Advertência do Autor: (Edição de 1787)

Quando mandei imprimir minha Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita, em 1781, anunciei a história da Ordem. Seis anos de reflexão provaram-me que apresentar a origem desta maçonaria seria infinitamente mais interessante.

“No Catecismo dos Aprendizes. (do Autor da Edição de 1787)

“ Esperando que a História da maçonaria, que vou publicar brevemente, persuada muitos Irmãos, poucos instruídos de que esta pergunta dever ser a primeira de seu catecismo....”.

A primeira edição do “ Recueil Precieux.....”, foi publicado em 1781, e a edição traduzida pela Loja Gilvan Barbosa” é a de 1787. Analisando esses dados da Edição de 1787, sem muito esforço mental, podemos concluir:

1º - Quem faz a citação que “Guillemain de Saint – Victor é o autor, foi editor Francês.

2º - Que a edição de 1787 é uma complementação da edição de 1781, fica claro com a citação do editor.

“O autor faz seus comentários, ... como parecem ter sido praticados em 1781..

3º - No tópico “Advertência do Autor”, determinou peremptoriamente que Saint – Victor, mandou imprimir em 1781 a primeira edição, e seis anos depois de “reflexões”, ele mandou imprimir outra edição (1787).

Se o Barrão de Tschoudy, faleceu em 1769, como em 1787 ele poderia ter feito reflexões e mandar editar outra edição ?

4º - Já no tópico “ Catecismo dos Aprendizes” o autor diz que, “vou” publicar a Historia da Maçonaria, o que fez em também em 1787, com o titulo “ Origine de la Maçonnerie Adonhiramite”. Que felizmente, sou um dos poucos a possuir um exemplar original.

Como dizia o renomado escritor maçom, Irmão José Castellani: ( “A Trolha” - nº 107 setembro de 1995 ) : “História é pesquisa, é documento e não especulação “.

26Dez2005 - 21:21 | ( 0 ) comentários

domingo, 14 de fevereiro de 2010

OS 33 GRAUS DA MAÇONARIA

OS 33 GRAUS DA MAÇONARIA (segundo o Rito Escocês, o mesmo que domina a maçonaria inglesa, francesa e latino-americana, aonde está incluída a brasileira)

• APRENDIZ
• COMPANHEIRO
• MESTRE
• MESTRE SECRETO
• MESTRE PERFEITO
• SECRETÁRIO ÍNTIMO
• INTENDENTE DOS EDIFÍCIOS
• MESTRE EM ISRAEL
• ELEITO DOS NOVE
• ILUSTRE ELEITO DOS QUINZE
• SUBLIME CAVALHEIRO ELEITO
• GRÃO MESTRE ARQUITETO
• REAL ARCO
• GRANDE ELEITO
• CAVALEIRO DO ORIENTE
• GRANDE CONSELHO (PRÍNCIPE DE JERUSALÉM)
• CAVALHEIRO DO ORIENTE E DO OCIDENTE
• SOBERANO PRÍNCIPE ROSA-CRUZ
• GRANDE PONTÍFICE
• VENERÁVEL GRÃO MESTRE
• CAVALEIRO PRUSSIANO OU NOAQUITA
• CAVALEIRO REAL MACHADO, OU PRÍNCIPE DO LÍBANO
• CHEFE DO TABERNÁCULO
• PRÍNCIPE DO TABERNÁCULO
• CAVALEIRO DA SERPENTE DE BRONZE
• ESCOCÊS TRINITÁRIO OU PRÍNCIPE DE MERCY
• GRANDE COMENDADOR DO TEMPLO
• CAVALEIRO DO SOL OU SUBLIME ELEITO DA VERDADE
• GRANDE ESCOCÊS DE SANTO ANDRÉ DA ESCÓCIA, OU GRÃO MESTRE DA LUZ
• GRANDE INQUISITOR, CAVALEIRO KADOSH, OU CAVALEIRO DA ÁGUIA BRANCA E NEGRA
• GRANDE JUIZ COMENDADOR OU INSPETOR COMENDADOR

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A MAÇONARIA – ESCLARECIMENTO

A Maçonaria, Ordem Universal, é constituída por homens de todas as raças e nacionalidades, acolhidos por iniciação e congregados em Lojas, nas quais, auxiliados por símbolos e alegorias, estudam e trabalham para o aperfeiçoamento da Sociedade Humana. É fundada no Amor Fraternal e na esperança de que,com amor a Deus, à pátria, à família e ao próximo, com tolerância e sabedoria, com a constante e livre investigação da Verdade, com a evolução do conhecimento humano pela filosofia, ciências e artes, sob a tríade da Liberdade, Igualdade e Fraternidade e dentro dos Princípios da Moral, da Razão e da Justiça, o mundo alcance a felicidade geral e a paz universal.

Desse enunciado deduz-se o seguinte:

I - a Maçonaria proclama, desde a sua origem, a existência de um Princípio Criador, ao qual, em respeito a todas as religiões, denomina Grande Arquiteto do Universo;

II - a Maçonaria não impõe limites à investigação da verdade e, para garantir essa liberdade, exige de todos a maior tolerância;

III - a Maçonaria é acessível aos homens de todas as raças, classes e crenças, quer religiosas quer políticas, excetuando as que privem o homem da liberdade de consciência, da manifestação do pensamento, restrinjam os direitos e a dignidade da pessoa humana e exijam submissão incondicional;

IV - a Maçonaria Simbólica compõe-se de três Graus universalmente reconhecidos e adotados: Aprendiz, Companheiro e Mestre;

V - a Maçonaria adota a Lenda do Terceiro Grau;

VI - a Maçonaria além de combater a ignorância em todas as suas modalidades, constitui-se numa escola, impondo-se o seguinte programa:

a) obedecer às leis democráticas do País;
b) viver segundo os ditames da honra;
c) praticar justiça;
d) amar o próximo;
d) trabalhar pelo progresso do homem;

VII - a Maçonaria proíbe discussão político-partidária e religioso-sectária em seus Templos;

VIII - a Maçonaria adota o Livro da Lei, o Esquadro e o Compasso, considerados como suas Três Luzes Emblemáticas, que deverão estar sobre o Altar dos Juramentos.




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A par dessa definição e da declaração formal da aceitação dos "Landmarks", codificados por Albert Gallatin Mackey, proclama, também, os seguintes princípios:

I - amar a Deus, a Pátria, a Família e a Humanidade;

II - praticar a beneficência, de modo discreto, sem humilhar;

III - praticar a solidariedade maçônica, nas causas justas, fortalecendo os laços de fraternidade;

IV - defender os direitos e as garantias individuais;

V - considerar o trabalho lícito e digno como dever do homem;

VI - exigir de seus membros boa reputação moral, cívica, social e familiar, pugnando pelo aperfeiçoamento dos costumes;

VII - exigir tolerância para com toda forma de manifestação de consciência, de religião ou de filosofia, cujos objetivos sejam os de conquistar a verdade, a moral, a paz e o bem social;

VIII - lutar pelo princípio da equidade, dando a cada um o que for justo, de acordo com sua capacidade, obras e méritos;

IX - combater o fanatismo, as paixões, o obscurantismo e os vícios.

A CRUZADA DO DESCOBRIMENTO

A chegada de Cabral ao Brasil foi parte de uma cruzada conduzida pela Ordem de Cristo, a organização que herdou a mística dos templários.
Domingo, 8 de março de 1500, Lisboa. Terminada a missa campal, o rei d. Manuel 1 sobe ao altar, montado no cais da Torre de Belém, toma a bandeira da Ordem de Cristo e a entrega a Pedro Álvares Cabral. O capitão vai içá-la na principal nave da frota que partirá daí a pouco para a índia. Era uma esquadra respeitável, a maior já montada em Portugal. com treze navios e 1 500 homens. Além", do tamanho, tinha outro detalhe íncomum. O comandante não possuía a menor experiência como navegador. Cabral só estava, no comando da esquadra porque era cavaleiro da Ordem de Cristo e, como tal, tinha duas missões: criar uma feitoria na índia e, no caminho, tomar posse de uma terra já conhecida, o Brasil.
A presença de Cabral à frente do empreendimento era indispensável, porque só a Ordem de Cristo, uma companhia religiosa-militar autônoma do Estado e herdeira da misteriosa Ordem dos templários , tinha autorização papal para ocupar - tal como nas cruzadas - os territórios tomados dos infiéis (no caso brasileiro, os índios). No dia 26 de abril de 1500, quatro dias depois de avistar a costa brasileira, o cavaleiro Pedro Álvares Cabral cumpriu a primeira parte da sua tarefa. Levantou onde hoje é Porto Seguro a bandeira da Ordem e mandou rezar a primeira missa no novo território. O futuro país estava sendo formalmente incorporado às propriedades da organização. O escrivão Pero Vaz de Caminha, que reparava em tudo, escreveu pane o rei sobre a solenidade: "Ali estava com o capitão a bandeira da Ordem de Cristo, com a qual saíra de Belém, e que sempre esteve alta." Para o monarca português, a primazia da Ordem era conveniente. É que atrás das descobertas dos novos cruzados vinham as riquezas que faziam a grandeza e a glória, do reino de Portugal. Nas próximas páginas, você vai entender como essa organização transformou a pequena, nação ibérica em um império espalhado pelos quatro cantos do planeta.
Uma idéia delirante leva os portugueses ao mar
No começo do século XV, Portugal era um reino pobre. A riqueza estava na Itália, na Alemanha e em Flandres (hoje parte da Bélgica e da Holanda). Então (como foi que os italianos encabeçaram a expansão européias ? A rica Ordem de Cristo foi o seu trunfo decisivo. Fundada por franceses em Jerusalém em 1119, com o nome de Ordem dos Templários, acabou transferindo-se para Portugal em 1307, época em que o rei da França desencadeou contra ela uma das mais sanguinárias perseguições da História. Quando o infante d. Henrique, terceiro filho do rei d. João 1, tornou-se grão-mestre da Ordem, em 1416, a organização encontrou o respaldo para colocar em prática um antigo e ousado projeto: circunavegar a África e chegar à índia, ligando o Ocidente ao Oriente sem a intermediação dos muçulmanos, que então controlavam os caminhos por terra entre os dois cantos do mundo.
No momento em que d. Henrique, à frente da Ordem de Cristo, resolveu dar a volta no continente africano, a idéia parecia uma doidice. Havia pouca tecnologia para navegar em oceano aberto (o Mediterrâneo é um mar fechado) e nenhum conhecimento sobre como se orientar no Hemisfério Sul, porque só o céu do norte estava mapeado ainda: acreditava-se que, ao sul, os mares estavam cheios de monstros terríveis. De onde teria vindo então a informação de que era possível encontrar um novo caminho para o Oriente? Possivelmente dos templários, que durante as cruzadas, além de se especializarem no transporte marítimo de peregrinos para a Terra Santa, mantiveram intenso contato com viajantes de toda a Ásia.
Aventura religiosa
A proposta visionária recebeu o aval do papa Martinho V, em 1418, na bula Sane Charissimus, que deu caráter de cruzada ao empreendimento. As terras tomadas dos infiéis passariam à Ordem de Cristo, que teria sobre elas tanto o poder temporal, de administração civil, quanto o espiritual, isto é, o controle religioso e a cobrança de impostos eclesiásticos.
Entre o lançamento oficial da empreitada e a conquista do objetivo último decorreria um longo tempo, precisamente oitenta anos. Apenas em 1498, o cavaleiro Vasco da Gama conseguiria chegar à índia. Morto em 1460, d. Heruique não assistiu ao triunfo da sua cruzada. Mas chegou a ver como, no rastro dela, Portugal ia se tornando a maior potência marítima da Terra.
A diplomacia do Príncipe navegador
A Escola de Sagres foi uma lenda criada por poetas românticos portugueses do século XIX. Na verdade, foi do porto de Lagos, no sudoeste de Portugal, que a Ordem de Cristo, liderada por d. Henríque, deflagrou a expansão marítima do século XV
Um porto aberto na encruzilhada do mundo
D. Henrique Sagrou-se cavaleiro em 1415, na batalha de Ceuta, no Marrocos, em que os portugueses expulsaram os muçulmanos da cidade. No ano seguinte, o príncipe virou comandante dá Ordem. Como a sucessão do trono português caberia a seu irmão mais velho, d. Duarte, Henrique assumiu o cargo de governador de Algarve. Solteiro e casto, dividia o seu tempo entre o castelo de Tomar, sede da Ordem, e a vila de Lagos, no Algarve. Em Tomar, cuidava das finanças, diplomacia e da carreira dos pilotos iniciados nos segredos do empreendimento cruzado. O castelo era u m cofre de recursos e informações secretas. Lagos era a base naval e corte aberta. Vinham viajantes de todo o mundo, de "desvairadas nações de gentes tão afastadas de nosso uso", escreveu o cronista Gomes Eanes de Zurara, na crônica da Tomada de Guiné. Os, personagens desse livro revelam um pouco do cosmopolitismo do porto de lagos: havia gente das Ilhas Canárias, caravaneiros do Saara, mercadores do Timbucto (hoje Mali), monges de Jerusalém, navegadores venezianas, alemães e dinamarqueses, cartógrafos italianos e astrônomos judeus.
Uma das regras de ouro da diplomacia era presentear. Assim, o príncipe juntou uma biblioteca preciosa. Entre mapas, plantas e tabelas havia um exemplar manuscrito das Viagens de Marco Polo. Não por acaso a primeira edição impressa dessa obra foi feita não em latim ou em italiano, mas em português, em 1534.
A Ordem combatente dos padres-soldados
Conquistada pelos cristãos na Primeira Cruzada, em 1098, Jerusalém estava de novo cercada pelos árabes em 1116. Foi quando os nobres franceses Hugode Poiens e Geoffroi de Saint-Omer juraram, na igreja do Santo Sepulcro, viver em perpétua pobreza e defender os peregrinos que vinham à Terra Santa. Nascia a Ordem dos cavaleiros Pobres de Cristo, renomeada, em 1119, como Ordem dos Cavaleiros do Templo- a Ordem dos Templários
Na época organizações católicas congregavam devotos sob regimento próprio. A dos Templários, entretanto era diferente: seus membros eram monges guerreiros. As normas da Ordem eram secretas e só conhecidas na totalidade, pelo comandante-em-chefe e pelo papa. Desde o início, os templários foram desobrigados de obedecer aos reis. Podiam, assim, ter interesses próprios. Ao entrar na companhia, o novato conhecia só uma parte das regras que a guiavam e, à medida em que era promovido, sempre em batalha, tinha acesso a mais conhecimentos, reservados aos graus hierárquicos superiores. Ritos de iniciação marcavam as promoções. Foi essa estrutura que permitiu, mais tarde, à Ordem de Cristo manter secreto os conhecimentos de navegação no Atlântico.
Banqueiros pobres
Enquanto as cruzadas, empolgaram a Europa, os templários receberam milhares de propriedades por doação ou herança e desenvolveram intensa atividade econômica. Nos seus feudos. introduziram métodos racionais de produção e foram os primeiros a criar linhagens de cavalos em estábulos limpos. Uma rede de postos bancários logo se espalhou por vários países. Peregrinos a caminho da Terra Santa depositavam seus bens no ponto de partida e ganhavam uma carta de crédito com o direito de retirar o equivalente em moeda local em qualquer estabelecimento templário. Daí para gerirem as finanças de reis como o da França foi um passo.
Mas a sua exuberância gerou inveja. Enquanto houve cruzadas, os templários exibiram orgulhosamente o manto branco com a cruz vermelha - a mesma que depois as naus portuguesas usariam. Com a queda da Cidade Santa, em 1244, e a expulsão das tropas cristãs da Palestina, em 129 1, a mística se dissipou e a oposição monárquica tomou-se explícita. Nas décadas seguintes, a confraria seria extinta em toda a Europa. Com a exceção de Portugal.
Calúnia e difamação e contra os guerreiros
O rei da França, Felipe IV, o Belo, devia celeiro à Ordem dos Templários. Os templários franceses eram os mais poderosos da Europa,. Controlavam feudos e construções no interior e em Paris. Entre eles, o templo, um conjunto de igrejas e oficinas que, reformado em 1319, virou o presídio da Bastilha, mais tarde destruído durante a Revolução Francesa.
As derrotas no Oriente Médio alimentaram uma onda de calúnias segundo as quais ás cavaleiros teriam feito acordos com os muçulmanos, fugido de campos de batalha e traído os cristãos. Aproveitando o clima, em 13 de outubro de 1307, Felipe invadiu, de surpresa, as sedes templarias em toda a França. Só em Paris foram detidos 500 cavaleiros, muitos sendo degolados.
Dois processos foram abertos: um dirigido pelo rei contra os presos e o outro conduzido pelo papa Clemente V contra a Ordem. O papa era francês, morava em Avignon e era aliado do rei. Torturas brutais e confissões arrancadas pela Inquisição viraram peças difamatórias escandalosas. O sigilo da Ordem foi usado contra ela e as etapas dos rituais de iniciação foram convertidas em monstruosidades. Os santos guerreiros foram acusados de cuspir na cruz, adorar o diabo, cultuar Maomé, manter práticas homossexuais e queimar crianças. Todos os seus bens foram confiscados. Esperava-se uma fortuna, mas, como pouco foi efetivamente recolhido, criou-se a lenda de que tesouros teriam sido transferidos em segurança para outro país.
Santuário de fugitivos
Para muitos, esse país teria sido Portugal. O rei d. Diniz (1261-1325) decidiu garantir a permanência da Ordem em terras portuguesas: sugeriu uma doação formal dos seus bens à Coroa, mas nomeou um administrador templário para cuidar deles. Nem o processo papal nem a execução do grão-mestre Jacques de Molay, em 1314, o intimidaram. Em 1317, reiterando que os templários não haviam cometido crime em Portugal, d. Diniz transferiu todo o patrimônio dos cruzados para uma nova organização recém-fundada: a Ordem de Cristo.
Assim, Portugal virou refúgio para perseguidos em toda a Europa. De vários países chegavam fugitivos, carregando o que podiam. O castelo de Tomar virou a caixa-forte dos segredos que a Inquisição não conseguiu arrancar. Dois anos depois, em 1319, um novo papa, João ~XXII, reconheceu a Ordem de Cristo. Começava para os cavaleiros uma nova era, com uma nova missão.
De cavaleiros a funcionários do Estado
Nas primeiras décadas de existência da Ordem de Cristo. os ex-templários estabeleceram estaleiros em Lisboa, fizeram contratos de manutenção de navios e à tecnologia. náutica, aproveitando o conhecimento adquirido no transporte marítimo de peregrinos entre a Europa e o Oriente Médio durante as cruzadas. Ao mesmo tempo, preparavam planos para voltar à ação, contornando a África por mar e, alindo-se a cristãos orientais, expulsar os mouros do comércio de especiarias.
Em 1416, quando assumiu o cargo de grão-mestre, d. Henrique lançou-se a diplomacia. Passaram-se cem anos desde que os templários haviam sido condenado nos processos de Paris e o Vaticano estava preocupado com a pressão muçulmana a Europa, que crescera muito no século XIV. Com isso, em 1418, o Infante consegue do papa um aval ao projeto expansionista. Daí em diante, cada avanço para o sul e para o oeste será seguido da negociação de novos direitos. Em um século, os papas emitiram onze bulas privilegiando a Ordem com monopólios da navegação na África, posse de terras, isenção de impostos eclesiásticos e autonomia para organizar a ação da Igreja nos locais descobertos.
Até a metade do século XV, os cavaleiros saíram na frente, sem esperar pelo Estado português. Uma vez anunciada a colonização, eventualmente doavam à família real o domínio material dos territórios, mantendo o controle espiritual, À corte, interessada em promover o desenvolvimento dá produção de riquezas e do comércio , cabia então consolidar a posse do que havia sido descoberto.
Pilhando mouros
No Marrocos, os novos civilizados atacaram Tânger, em 1437, e Alcácer-Ceguer, em 1458. O ímpeto guerreiro preponderou sobre o mercantilismo real até 1461, quando o cavaleiro Pedro Sintra encontrou ouro na Guiné. Aí, a pressão comercial da monarquia começou a ficar maior. Mesmo assim, ainda houve expedições contra os mouros marroquinos em Asjlah e Tânger, outra vez, em 1471. Mas à medida que foi sendo consolidado o comércio na rota das índias, a. partir da sua descoberta em 1498, a coroa foi absorvendo gradualmente os poderes da Ordem. Até que em 1550 o rei d. João III fez o papa Júlio III fundir as duas instituições. Com isso, o grão-mestre passa a ser sempre o rei de Portugal, e o seu filho tem o direito de sucedê-lo também no comando dos cruzados.
Outros parceiros entram no jogo
A Ordem de Cristo controlou o conhecimento das rotas e o acesso às tecnologias de navegação enquanto pôde. Mas com o ouro descoberto na Guiné, em 1461, o monopólio da pilotagem passa a ser cada vez mais desafiado. A partir de então, multiplicaram-se os contra tos com comerciantes e as cessões de domínio ao rei para exploração das regiões descobertas. Aos poucos a sabedoria secreta guardada em Tomar foi sendo foi sendo passada para mercadores de Lisboa, Flandres e Espanha. Portugal naquela época fervilhava de espiões, especialmente espanhóis e italianos, que procuravam os preciosos mapas ocultados pelos cruzados.
Enquanto o tesouro de dados marítimos esteve sob a sua guarda, a estrutura secreta da Ordem garantiu a exclusividade para os portugueses. Em Tomar e em Lagos, os navegadores progrediam na hierarquia apenas depois que a sua lealdade era comprovada, se possível em batalha. Só então eles podiam ler os relatórios reservados de pilotos que já haviam percorrido regiões desconhecidas e ver preciosidades como as tábuas de declinação magnética, que permitiam calcular a diferença entre o pólo norte verdadeiro e o, pólo norte magnético que aparecia nas bússolas. E, à medida que as conquistas avançavam no Atlântico, eram feitos novos mapas de navegação astronômica, que forneciam orientação pelas estrelas do Hemisfério Sul, a que também unicamente os iniciados tinham acesso.
Competição acirrada
Mas o sucesso atraía a competição. A Espanha, tradicional adversária, também fazia política no Vaticano para minar os monopólios da Ordem, em ação combinada com seu crescente poderio militar. Em 1480, depois de vencer Portugal numa guerra de dos anos na fronteira, os reis Fernando, de Leão, e Isabel, de Catela, começaram a se interessar pelas terras d’além-mar. Com a viagem vitoriosa de Colombo à América, em 1492, o papa Alexandre VI, um espanhol de Valência, reconheceu em duas bulas, as Inter Caetera, o direito de posse dos espanhóis sobre o que o navegante genovês havia descoberto. E rejeitou as reclamações de d. João II de que as novas terras pertenciam a Portugal. O rei não se conformou e ameaçou com outra guerra. A controvérsia induziu os dois países a negociarem, frente a frente, na Espanha, em 1494, um tratado para dividir o vasto novo mundo que todos pressentia: o Tratado de Tordesilhas.
Vitória da experiência em Tordesilhas
Na volta da viagem à América, em 1493, Cristóvão Colombo fez uma escala em Lisboa para visitar o rei d. João II. um gesto corajoso. O soberano estava, dividido entre dois conselhos: prender o genovês ou reclamar do papa direitos sobre as terras descobertas.
Para sorte de Colombo, decidiu pela segunda alternativa. Como a reivindicação não foi atendida, acabou sendo obrigado à enviar os melhores cartógrafos e navegadores da Ordem de Cristo, liderados pelo ex presidente Duarte Pacheco Pereira, a Tordesilhas, na Espanha, para tentar um tratado definitivo, mediado pelo Vaticano, com os espanhóis. Apesar de toda a contestação a seus atos, a Santa Sé ainda era o único poder transnacional na Europa do século XV. Só ela podia mediar e legitimar negociações entre países.
O cronista espanhol das negociações, frei Bartolomeu de las Casas, invejou a competência da missão portuguesa. No livro História de Ias Índias, escreveu: "Ao que julguei, tinham os portugueses mais perícia e mais experiência daquelas artes, ao menos, das coisas do mar, que as nossas gentes". Sem a menor dúvida. Era a vantagem dada pela estrutura secreta da Ordem.
Não deu outra. Portugal saiu-se bem no acordo. Pelas bulas Inter Caetera, os espanhóis tinham direito às terras situadas mais de 100 léguas a oeste e sul da ilha dos Açores e Cabo Verde. Pelo acordo de Tordesilhas, a linha divisória imaginária, que ia do pólo norte ao pólo sul, foi esticada para 370 léguas, reservando tudo que estivesse a leste desse limite para os portugueses o Brasil inclusive.

Super Interessante
Ano:12 – nº 2 – fevereiro 1998